terça-feira, 1 de setembro de 2009

Leitura 16

Teobaldo correu a contar ao amigo o resultado da sua conferencia com o pai de Branca.

- Então? Que te dizia eu?... exclamou Coruja, nadando em júbilo. Vês?! Tudo se pode arranjar por bons meios! Não dou muito tempo para que o comendador morra de amores por ti e esteja disposto a proteger-te mais do que protegeria a um próprio filho! Assim tenhas tu cabeça e saibas te agüentar no emprego!

- Vamos a ver.

- Olha, meu caro, ali tens um futuro, sabes? Talvez não ganhes muito ao princípio, mas pouco a pouco o comendador te aumentará o ordenado e, quando deres por ti, estarás com a tua vida independente e garantida. Então, sim, pede a menina e casa-te, antes disso - é asneira!

XX

O Aguiar, ao lhe constar a entrada de Teobaldo para o escritório do tio, esteve a perder os sentidos, tal foi o abalo que lhe produziu a notícia; mas, ordenando as suas idéias e meditando o fato, tocou logo para a casa de Leonília, disposto a por mão em todos os meios que lhe servissem de arma contra o rival.

- Aposto que não adivinhas o que aqui me traz!... principiou ele, assim que a cortesã lhe apareceu no patamar da escada.

- Saberei se mo disseres..

- É uma revelação de amigo...

- Uma revelação? Entra.

- Com licença.

E, assentando-se defronte dela:

- Ainda gostas muito de Teobaldo?

- Loucamente, por que?

- Sentirias muito se ele te abandonasse?

- Se me abandonasse? Mas que queres dizer? Há alguma novidade? ele tenciona sair do Rio? Anda! fala por uma vez!

- Não, não é isso...

- Então que é? Desembucha!

Aguiar estendeu as mãos uma contra a outra, em sinal de casamento e fez um trejeito com os olhos.

Casar? ele? exclamou Leonília empalidecendo repentinamente. - Ele vai casar?!

- Está tratando disso e é natural que a consiga se lhe não cortarem os planos.. . Só uma pessoa o poderia fazer e essa pessoa és tu.

- Eu?! disse ela, afetando indiferença. - Ora, que me importa a mim! Que se case quantas vezes quiser!

Mas puxou logo o lenço da algibeira, escondeu os olhos e atirou-se depois sobre o divã, soluçando aflita.

- Bom, bom! pensou o rapaz - com esta posso contar!...

E foi assentar-se ao lado da cortesã, para lhe expor o caso minuciosamente. Soprou-lhe em voz baixa o nome da noiva, o número da casa do tio, falou sobre este e sobre Mme. de Nangis e terminou dando parte do novo emprego de Teobaldo.

- Se aquele patife continuar mais algum tempo no escritório, segredou ele, estará tudo perdido! É preciso antes de mais nada arrancá-lo dali. Conheço-lhe as manhas, é capaz de enfiar um camelo pelo ouvido de uma agulha!... Trata de evitar o casamento e podes, além do resto, contar com uma boa recompensa de minha parte. Adeus.

Leonília deixou-o sair, sem lhe voltar o rosto, nem lhe dar uma palavra. Só alguns minutos depois, ergueu--se, passou as mãos pelos cabelos das fontes, suspirou prolongadamente, mirou-se no espelho que lhe ficava mais perto e apoiou-se a um móvel, com o olhar cravado em um ponto da sala.

- Miserável! balbuciou ela depois de longa concentração. - Miserável! E ele que nunca me falou nisto... Iludir-me por tanto tempo!... Tinha um casamento ajustado, tinha um namoro, e eu supondo que era amada!... Ah! quando me lembro que ainda ontem lhe disse que seria capaz de tudo por causa dele, que tudo suportaria para não me privar dos seus carinhos!... Oh! mas hei de vingar-me, hei de fazê-lo sofrer o quanto for possível, hei de persegui-lo enquanto durar o meu amor! Ou este casamento será desmanchado ou Teobaldo não terá mais um momento de repouso em sua vida!

E desde então principiou Leonília a fazer planos de vingança, a imaginar maldades e represálias contra o amante, disposta a não lhe deixar transparecer o menor indício das suas intenções; mas, na primeira ocasião em que Teobaldo esteve ao seu lado, ela não se pode conter e, entre soluços, deixou rolar contra ele a formidável tempestade de ciúmes que a tanto custo reprimia.

- É exato, respondeu o moço sem se alterar. Já que sabes de tudo confesso-te que vou casar.

- Hipócrita!

- Hipócrita, por que? Então não posso dispor de mim?

- Não, decerto! a não ser que tenciones me dar o mesmo destino que teve a pobre Ernestina!

Teobaldo fez um gesto de contrariedade e Leonília acrescentou:

- Não, de certo, porque, quando uma mulher ama como eu te amo, não pode consentir que o seu amado se case com outra!

- Mas, filha, é preciso ser razoável!... Querias então que eu fosse eternamente o teu amant de coeur?... querias que eu não tivesse outras aspirações, outros ideais, senão representar a indigna e falsa posição que represento aqui nesta casa, que não é paga só por mim?...

Oh! Já tive ocasião de provar-te que não ligo importância a tudo isto !.

- Sim, mas não compreendes que tenho aspirações e prezo o meu futuro? não vês que seria loucura de tua parte contar comigo para toda a vida?... Oh! às vezes nem me pareces uma mulher de espírito!

- E amas tua noiva?

- Se não a amasse, não desejaria casar com ela.

- Dize antes que lhe cobiças o dote; serias, ao menos, mais delicado para comigo.

- Bem sabes que eu não minto..

- Quando não te faz conta!...

- Desafio-te a citares uma mentira minha!

- Ora! não tens feito outra coisa até agora, escondendo de mim os teus projetos de casamento.

- Não! Isso seria falta de franqueza, mas nunca mentira.

- E mentir fazer acreditar em um amor que não existe.

- Eu nunca fiz semelhante coisa! Não fui eu quem te iludiu, foste tu própria!

- Confessas então que nunca me amaste, não é assim?

- A que vem esta pergunta?... Amar! amar! Oh! como tal palavrão me enjoa e apoquenta!

- É porque és um cínico!

- Não, é porque "amor" nada exprime, é um palavrão sem sentido; fala-me em simpatia, em gostar de ver alguém e senti-lo ao seu lado; fala-me na estima e no apreço em que temos os bons e os generosos, e eu te compreenderei e eu te direi que te aprecio e te quero!

- Vais me oferecer a tua amizade. Aposto.

- Não te posso oferecer uma coisa que dispões há muito tempo... O que eu desejo é apelar justamente para essa amizade e pedir-te em nome dela que não sejas um obstáculo ao meu futuro e A minha tranqüilidade.

- Não te compreendo.

- Meu futuro baseia-se todo neste casamento.

- E vens pedir que eu te auxilie?...

- Sim.

- Pois desiste de tal idéia!

- Não queres me proteger?

- Quero guerrear-te.

- Ah!...

- Hei de fazer o possível para que o teu casamento nunca se realize!

- É assim que és minha amiga?...

- É assim que sou rival de tua noiva! Hei de fazer o que puder contra ela! És meu! amo-te! hei de defender-te de toda e qualquer mulher, seja uma das minhas ou seja uma donzela de quinze anos!

- Queres então que eu me arrependa de haver consentido em ser teu amante?

- Não sei! quero é que não me deixes! Sou muito mais velha do que tu; espera que eu morra e casarás depois com uma das que aí ficarem.

- És má!

- Sou mulher.

- Adeus.

E fez alguns passos na direção da porta; ela atirou-se-lhe no pescoço e começou a soluçar, beijando-o todo, sofregamente, como quem se despede do cadáver de um ente querido a que vão sepultar.

Teobaldo, entretanto, conseguiu desviar-se-lhe dos braços e saiu, disposto a nunca mais tornar ao lado dela.

Mas, no dia seguinte, às duas da tarde, trabalhava no escritório do patrão, quando viu parar à porta o carro de Leonília e logo, em seguida, entrar esta pela casa, à procura do Sr. comendador Rodrigues de Aguiar.

- O comendador não está, disse-lhe um caixeiro. Leonília perguntou a que horas o encontraria; o caixeiro respondeu, e ela saiu com o mesmo desembaraço com que entrara.

Teobaldo, mal ouviu bater a portinhola do carro, atirou para o lado a correspondência, pôs o chapéu, abandonou o escritório, tomou um tílburi e seguiu na pista da cortesã. Quando esta se apeava à porta de casa, ele surgiu ao lado dela.

- Que deseja de mim? perguntou Leonília parando à entrada.

- Pedir-lhe um favor.

- Agora não lhe posso prestar atenção. Adeus.

- Olha! Ouve!

Ela não respondeu, arrepanhou as saias, galgou a escada e Teobaldo ouviu bater em cima uma porta fechada com arremesso.

Tornou à rua estalando de cólera.

- Maldita mulher! pensou ele. Maldita mulher, que tanto mal me faz!

E, quando mais reconsiderava as vantagens do seu casamento, mais furioso ficava contra Leonília e mais apaixonado se supunha pela graciosa filha do comendador.

Meteu-se de novo no tílburi e mandou tocar a toda força para o colégio onde trabalhava o Coruja. Era uma idéia que lhe aparecera de repente.

E assim que viu o amigo:

- Arranja uma saída já! disse-lhe, sacudindo a mão dele entre as suas. Preciso de ti no mesmo instante. É um caso urgente. Vem daí!

O Coruja, meio contrariado por interromper a sua obrigação, mas ao mesmo tempo já em sobressalto com as palavras do amigo, não se fez esperar muito.

- Então, que temos? perguntou logo que se viu a sós com Teobaldo na rua.

- André, preciso que me prestes um serviço, um verdadeiro serviço de amigo: Leonília quer desmanchar o meu casamento; é necessário convence-la do contrário. Só tu me poderás fazer isso; és o único homem sério de que disponho! Vai ter com ela e chama-a à razão! Fala-lhe com franqueza, promete-lhe o que entenderes, contanto que a convenças'

- Ela ameaçou-te de fazer qualquer coisa?

- Nem só ameaçou, como até já foi ao escritório do comendador procurá-lo!.

- Falou-lhe?

- Não porque felizmente ele não estava em casa, mas volta amanhã sem dúvida ou talvez ainda hoje mesmo, e tu bem sabes que, se ela fala ao comendador, estou perdido! e adeus casamento, adeus futuro, adeus tudo!

- E preciso então ir já?

- Sim, imediatamente! Olha! mete-te no tílburi e vai, anda!

Coruja fez ainda algumas perguntas, tomou certas informações e afinal seguiu para a casa de Leonília.

Veio ela própria recebe-lo, fê-lo entrar para a sala e assentou-se-lhe ao lado.

Só então o pobre André avaliou o alcance do seu compromisso; achou a comissão mais difícil do que julgara e a si próprio mais fraco do que supunha; mas vencendo o acanhamento, principiou sem transição:

- Sabe, moça, eu venho aqui para lhe pedir um favor...

12 comentários:

  1. QUERIDO ALUNO, AO FAZER O SEU COMENTÁRIO, NÃO DEIXE DE COLOCAR NOME, NÚMERO E SÉRIE.

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  2. ó meu caro senhor ,por que não me falo há mais tempo?...
    tenho muito prazer em ser-lhe útil;diga quais são as suas habilitações e pode ser que entremos em algum acordo.

    vinicius n:36
    serie 6:a

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  3. teobaldo viu-se deveras embaraçado para responder a semelhante pergunta.

    douglas
    n:14
    6a

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  4. pois então trabalhará na correspondência.tem boa letra?
    sofrivel;quer ver?
    e,tomando a pena que o negociante havia deposto em cima da carteira,escreveu primorosamente sobre uma folha de papel as seguintes palavras:

    convencido de que a ociosidade é a mãe de todos os vicios e de trabalho honesto e prveitoso.

    alex n:1 6a
    prof estou fazendo no pc d vinicius ta n é ele escrevendo sou eu alex
    o douglas tambem

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  5. sabe,moça,eu venho aqui para lhe pedir um favor...
    senhor é o amigo de teobald,não é verdade?
    sou eu mesmo.
    o CURUJA,não?
    justamente.
    que favor deseja pedir?
    que a senhora não faça a desgraça do nosso amigo.
    como?
    desmanchando-lhe o casamento.
    ele entao falou nisso?
    já,e eu vim pedir á senhora que tenha pena do pobre rapaz

    jose n:20 6a

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  6. O comentário deve ser feito com suas palavras.

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  7. Teobaldo queria se casar com a filha do comendador,já estava tudo pronto para ele se casar com a moça,mas sua amante Dn.Leonília tinha uma paixão tão desesperada por Teobaldo,que quando ela soube que ele iria se casar ,ela disse para ele com todas as letras que iria acabar,infernizar o casamento dele com a filha do comendador.Ele ficou desesperado,ela foi até a casa do comendador acabar com o casamento de Teobaldo,mas felizmente ele não estava em casa,ai Dn.Leonília não conseguiu falar com ele,Teobaldo foi até onde André(O Coruja) trabalha para lhe pedir um favor,André logo deixou o que estava fazendo,e,foi falar com Teobaldo,ele lhe pediu que fosse falar com Dn.Leonília,para ver se conseguia fazer com que ela não acabasse com o seu casamento,porque se não era Adeus casamento,adeus futuro,adeus vida.André foi até a casa dela e lhe pediu um favor...

    Nome:Mariana Mota Dias
    N°:26
    Série:6°A

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  8. André fez ainda algumas perguntas, tomou certas informações e afinal seguiu para a casa de Leonília.

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  9. NOME:Eduardo Oliveira De Araujo
    Nº04 SERIE:6ªC


    Aguiar foi à casa de Leonília pra lhe contar que Teobaldo iria se casar com a filha do comendador.
    Leonília, ao saber que Teobaldo iria se casar, disse ao Aguiar que não se emportava com isso,mas na verdade,se importava sim.
    Quando Aguiar foi embora, Leonília não estava acreditando no que iria acontecer, então ela decidiu-se se vingar, mas não conseguia por causa do seu ciumes.

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  10. O comentário deve ser feito com suas palavras.

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